quarta-feira, 19 de junho de 2013

Nós, os Negros e Negras - III CONFERÊNCIA MUN. DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE

"Nós, os Negros e Negras"

 

Houve um tempo Zumbi-Acotirene,

em que "Nós, os Negros e Negras" acreditamos que as mudanças de que precisávamos para ter uma vida digna só viria através de um milagre de "Deus" (seja qual fosse o seu nome), ou de muita luta, inclusive armada. E fizemos isto. Como o segmento da população que construíra este país, literalmente nas costas, formamos quilombos, invadimos engenhos, libertamos outros de nós, saqueamos e matamos os que nos oprimiam, que a nós consideravam  como animais, "coisas semoventes" e, nos  torturavam  e submetiam às mais brutais crueldades. Ali estávamos no Brasil Império. Nós não éramos nada, nem cidadãos de alguma categoria! Cães e cadelas eram mais bem tratados; aliás, neste particular, com cães e cadelas não se podia lançar mão, explorar ao bel prazer DO SUPOSTO "DONO", sua sexualidade; já de nós... Nesse tempo, milhares e milhares de vidas foram ceifadas violentamente.

 

Houve um tempo José do Patrocínio-Luiza Mahin,

em que "Nós, os Negros e Negras" acreditávamos sim, que era possível fazer parte da "sociedade nacional", discutir idéias e convencer aos demais a refletirem seus atos insanos de escravização e eugenia; acreditamos na capacidade do outro ser humano superar seu egoísmo e sua conveniência sócio-econômica  e, se despir de seus privilégios e ignorância em favor da paz e da partilha. Nesse tempo, milhares e milhares de vidas continuaram sendo ceifadas violentamente. Era a fase de transição para a "república" e o pedacinho inicial dela.

 

Há um tempo Joaquim Barbosa-Louislinda Valois,

em que "Nós, os Negros e Negras" por continuarmos acreditando, conseguimos valorizar o legado dos tempos anteriores; conseguimos peitar e pautar a "sociedade nacional" de que sem discutir "república" e "democracia", numa perspectiva anti-racista, sem incluir a "Nós os Negros e Negras", não há desenvolvimento, não há respeito, não há paz, porque ainda continuam sendo mortas violentamente milhares e milhares de pessoas. E neste tempo em que vivemos 121 anos "pós-abolição", a população em todo país vai às ruas demonstrando seu descontentamento e, apesar de os principais "meios de comunicação", propositadamente, não mostrarem as nossas falas e caras pretas, nós estamos ali. Apesar de segundo esses "meios", a segunda Cidade mais Negra fora da África, ter ido às ruas, apenas para apoiar os protestos das demais capitais, nós estamos aqui.

 

É provável que estejamos num tempo em que não caiba mais a violência armada (para a tão sonhada "revolução"); que em seu lugar tenha surgido, parido pelo processo democrático, dentre outros instrumentos, os meios de "controle social" sobre a administração pública (conselhos, conferências e pressão social – "pacífica"!). Para mim tudo é muito novo e creio que não estou só neste sentimento. Acredito que no Brasil a "revolução armada" se cunhou antes mesmo que se pensasse ser possível uma república multi-racial, multicultural e diversa em vários aspectos (foi o nosso tempo Zumbi-Acotirene). Com certeza, a Academia branca brasileira nunca disse isto, nem dirá! Porque não eram brancos estes atores; a exemplo de como se conta a história do sindicalismo no Brasil (a partir da chegada dos italianos). Eles continuam temendo a nós, os Negros e Negras.

 

Não queria transformar este texto numa reflexão extensa; sua intenção inicial era uma chamada para o convite abaixo. Independente de ideais partidários e ideologias aparentemente contrárias a qualquer gestão, militantes da causa antiracista não podem se dar ao luxo de ficarem de fora desse compromisso chamado "III Conferência de Promoção de Igualdade Racial", do âmbito municipal ao  Nacional, neste marco "10 ANOS" (10 anos da Lei 10.639; 10 anos da criação da Primeira Secretaria Municipal de Reparação no país – a de Salvador; 10 anos da criação da SEPPIR;  o inicio da  "década do afro-descendente" – 2013 a 2023; e de quase 10 anos de tramitação do Estatuto de Promoção da Igualdade Racial na Assembléia Legislativa da Bahia).

 

Então, atenda ao chamamento: no dia 26 de Junho, às 8hs, Auditório da OAB, Rua Portão da Piedade -  Centro, vá defender uma das 60 vagas,  para a organização que você faz parte. Essas são vagas remanescentes das 8 Pré-conferências realizadas nos finais de semana 8,9 e 15 de junho na cidade do Salvador.

 

Um Forte Abraço Negro.

 

Valdo Lumumba

Assessor da SEMUR de Salvador

 

 



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QUE AS FORÇAS CONSTRUTIVAS  DO UNIVERSO ESTEJAM EM TODOS OS SEUS DIAS.
Juntos somos fortes, juntos podemos mais.

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